Portal Xadrez Total publica Retrospectiva 2011 escrita pelo MF Álvaro Aranha.

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O ano de 2011 se foi e agora é hora de analisar o que se passou de bom e de ruim e traçar metas e projeções para que tenhamos um 2012 ainda melhor. Primeiramente deixo claro que o texto a seguir é um texto que reflete apenas minhas opiniões pessoais e não tenho a pretensão de ser o dono da verdade.
Nossos jogadores em destaque
Começando por acontecimentos positivos,devemos destacar o ano quase impecável do GM Rafael Leitão que ganhou 4 dos torneios mais importantes realizados no país esse ano, (Memorial Antonio Rocha, Contaud, Bienal João Braga e o Brasileiro) e termina o ano como número 1 do Brasil. Vale lembrar também a volta de Fier a casa dos 2600 e um ano com conquistas importantes,em especial a Copa Latino-Americana em Montevidéu,o Zonal 2.4,bem como a vitória no match contra o chinês Wang Yue. Para mim está claro que Fier motivado e com vontade de jogar, é um potencial 2700, o segredo está em ele saber escolher a qualidade e quantidade de torneios que joga,além de lidar com um pouco mais de maturidade com as inevitáveis derrotas, que acontecem para qualquer enxadrista, mesmo que esse enxadrista seja Magnus Carlsen.
Destaques do xadrez feminino
No feminino,os destaques foram para a catarinense Vanessa Feliciano, (ganhou o Zonal 2.4 , 2 etapas do pré-olímpico e graças a ótimas performances no absoluto deveria ter chegado a 2215 na lista de janeiro, o que só não aconteceu, pois o Paulista absoluto não contou) Juliana Terao, (ganhou 2 etapas do pré-olímpico e o Sul-Americano sub-20) Artemis Cruz (Campeã Brasileira Absoluta 2011) e Katherine Vescovi(Campeã brasileira sub-12,campeã brasileira sub-18 e co-campeã pan-americana sub12).
Grandes torneios no Brasil em 2011
Entre os eventos organizados esse ano, destacaria quatro. Em ordem cronológica: 1- Bienal João Braga,foi o torneio aberto com maior premiação no Brasil nesse ano, graças ao esforço e abnegação do meu compadre e entusiasta do xadrez, professor João Braga que ao contrário de 99 por cento dos organizadores não lucrou “um tostão” com o evento, fazendo questão de colocar toda a verba de patrocínio que lhe foi cedida, na premiação e organização do evento. 2- Simultâneas e palestras de Kasparov no Brasil, tivemos a oportunidade de presenciar a repercussão midiática que esse ícone do xadrez mundial proporcionou,além da importante campanha que fez para o ensino do xadrez nas escolas. 3-O Grand Slam 2011,reuniu seis dos melhores jogadores do mundo em São Paulo e ajudou ainda mais na divulgação do nosso jogo. Acho super importante a oportunidade das nossas crianças verem um Carlsen ao vivo,para se motivarem e quem sabe um dia, conseguirem se tornar um top mundial. Me lembro de uma conversa com o GM cubano Aryam Abreu, onde ele contava como a presença dos top GMs soviéticos influenciou o crescimento do xadrez na ilha de Fidel. 4-Mundial da Juventude,desde 2002: Eu trabalho como professor e treinador, e nunca havia tido a oportunidade de que meus alunos jogassem um Mundial aqui. Sempre eram necessárias caríssimas viagens para a Europa para participar desse evento. Esse ano, tivemos a oportunidade de sediar esse grande evento e com isso,nossos jogadores em muito maior número que o habitual, tiveram a oportunidade de presenciar,como os melhores do mundo,jogam e se comportam durante uma competição desse calibre. Foi muito importante para o futuro do xadrez brasileiro, observar a diferença de preparação e postura em relação as nações top do xadrez mundial.
Ponto negativo
Do ponto de vista negativo, minha principal preocupação,vem com as categorias de base do xadrez brasileiro. Há muito tempo nossos meninos não se destacam sequer nos Pans. Costumamos ficar atrás de “potências” como Venezuela, Equador etc. Deixo claro que essa crítica atinge a mim também, pois sou treinador de vários jovens talentos brasileiros e infelizmente não tenho conseguido ajudá-los de maneira suficiente.
Alunos em destaque em Pan-Americanos.
Os melhores resultados que consegui ajudar a produzir, foram: 2005 Leandro Jukemura 4º lugar sub-14, 2008-Vanessa Feliciano 2ª sub-18 , Daphne Jardim 6º sub-14 , 2010 Thiago Dobuchak 7º sub-10 e 2011, Katherine Vescovi(co-campeã, mas 4º pelos critérios de desempate sub-12).
A dura realidade
O último título que o Brasil conquistou em Pans ,salvo engano,foi de Victor Shumiatsky em 2008! Esse dado alarmante mexe muito comigo e a verdade é que a resposta é bastante difícil de se achar. Hoje as condições de treinamento são bem melhores que na época de Giovanni, Leitão, Tatiana Ratcu, Tatiana Duarte, Benares, Fier etc. Certa vez,no Pan de 2005 um MF que treinava a delegação peruana,me deu uma curiosa declaração tentando explicar,como um país pobre como o Perú tinha resultados tão melhores que os nossos,ele disse: ”No Brasil os meninos tem muito mais opções de lazer que no Perú. No seu país eles jogam vídeo game, jogam futebol,tem ótimos parques de diversão….Já no Perú,o xadrez é uma oportunidade de os meninos saírem da pobreza,melhorar a condição da família e em muitos casos,a única chance de viajar para fora do país”.
Proposta de discussão
A verdade é que seria interessante haver um congresso onde esse tema fosse abordado não só pelos profissionais daqui,mas também que trouxéssemos profissionais de países onde a categoria de base é melhor trabalhada como China, Índia, Armênia, Rússia etc. É preciso ter humildade nessa hora e tentar entender porque eles conseguem resultados muito melhores que os nossos.
Jogos Abertos de São Paulo e Santa Catarina
Outro aspecto muito negativo é a absurda coincidência de datas entre os Jogos Abertos de São Paulo e Santa Catarina, que não sei atendendo a interesses de quem, foram realizados nos mesmos dias. São 365 dias no ano e eles resolvem fazer nos mesmos 7 dias!Os garotos em Santa Catarina perderam a oportunidade de ver de perto 3 dos mais fortes jogadores do Brasil que já estavam apalavrados com equipes do estado, GM Fier, GM El Debs e GM Matsuura. No caso de São Paulo o estado mais forte economicamente do Brasil, ficou sem contar com as presenças do número 1 do Brasil Giovanni Vescovi e a número 1 do Brasil WFM Vanessa Feliciano. A grande pergunta é quem ficou feliz com isso? Certamente os profissionais que dedicaram sua vida estudando xadrez e fazendo grande sacrifício para alcançar o estágio que estão hoje, é que não foram. Agora o incrível é que recebi a informação extra-oficial, que os Jogos de 2012 em SC estão programados para 5 a 16 de novembro e em SP,de 5 a 17 do mesmo mês. Espero que os presidentes de federação juntamente com as respectivas secretarias se reúnam, pois ainda há tempo para evitar esse novo absurdo. Seria importante que os jogadores profissionais que são diretamente atingidos por isso se manifestassem.
Perspectivas para 2012
Falando de 2012, nesse ano teremos novamente Olimpíadas em agosto na Turquia, e se na base nosso xadrez não vive um grande momento, na elite creio que teremos as 2 melhores equipes da nossa história se levarmos em consideração o nível técnico de nossos jogadores. No Masculino,além dos incontestáveis, Leitão, Giovanni ,Fier e Milos,temos uma ótima disputa pela quinta vaga, pois se como de costume o Mequinho não participar, temos do 6º Darcy ao 12º Matsuura a diferença de apenas 22 pontos.O mais importante é que vários dos postulantes vem mostrando estar em bom momento, basta ver a performance do El Debs na Semifinal e Final e o belo final de ano do Krikor com três bons torneios em sequência. Alguns desses jogadores tentarão a sorte no começo do ano em torneios na Europa. Já em janeiro uma caravana composta por pelo menos 4 brasileiros(Fier, El Debs, Molina e eu) estará jogando o fortíssimo Open de Gibraltar na Inglaterra. Para quem queira ver a lista de inscritos, www.gibraltarchesscongress.com/. Em seguida será a vez de Krikor e Evandro se juntarem a Fier e Molina. Em resumo a corrida pela 5ª vaga será emocionante e terá um jogador em boa fase para se juntar ao quarteto já tradicional em agosto.
A evolução do xadrez feminino
No feminino, como mostra a lista de janeiro, temos pela primeira vez na nossa história, onze jogadoras acima de 2000 de rating. Isso mostra que o fato de as principais jogadoras do Brasil terem que se manter ativas por causa do Circuito Pré-Olímpico faz com que o nível médio cresça, e as jogadoras cheguem em boa forma na Olimpíada o que não acontecia com um único torneio para definir a equipe. Como termo de comparação lembremos que na última Olimpíada,tínhamos apenas uma jogadora com mais de 2000 de rating e isso nos prejudicou bastante no emparceiramento.Além da melhora do rating médio das nossas melhores jogadoras,vale ressaltar que nessa lista, 91 meninas aparecem com rating FIDE creio que esse número é o triplo do que tínhamos em 2010. Acho que três vagas estão praticamente definidas para a Olimpíada e as duas que sobram estão bem disputadas e independentemente de quem se classificar,teremos a equipe mais forte de todos os tempos. É importante observar que esse crescimento não aconteceu por acaso e se deu graças a valorização que o Presidente Pablyto Robert deu ao xadrez feminino, começando pela divisão igual da premiação no Sul-Americano por equipes, realizado na Argentina, contrariando a vontade de alguns dos nossos GMs, a disponibilização de um treinador para a equipe, a organização de um torneio fechado de norma de WIM, o Pan-Americano feminino em Campinas, além de subsidiar as etapas pré-olímpicas. Resumindo, 2011 foi um ano muito bom , e 2012 promete ser um ano ainda melhor. Para nós de São Paulo, fica a esperança que com a eleição do nosso amigo Ramon Carrasco, o xadrez paulista possa renascer, voltando a ser um estado com grande realização de torneios, e eu não precise mais viajar para a Inglaterra para ter chance de jogar um torneio de norma de MI [risos]. Um excelente 2012 para todos os enxadristas brasileiros.
MF Álvaro Aranha




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